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Volkswagen e Ford: retratos de um velho casamento

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    Mestre

      Segundo o nosso sempre bem informado colunista Fernando Calmon*, com o fechamento de suas fábricas da Ford no Brasil, a VW pode passar a produzir aqui alguns modelos da marca norte-americana.

      + Volkswagen deve produzir para Ford no Brasil

      Ex-sócias na Autolatina (1987-96), as duas grandes já dividiram tetos de fábricas, funcionários, motores e plataformas de seus carros. A seguir, resgatamos alguns desses modelos. 

      Em meados dos anos 1980, durante mais uma das tantas fases críticas da economia brasileira, com vendas de automóveis em queda e incerteza em relação ao futuro próximo, executivos da Volkswagen e da Ford decidiram fazer um acordo para otimizar a produção de suas fábricas, melhorando sua rentabilidade.

      Pelo acordo, a VW detinha 51% das ações da joint-venture, enquanto a Ford ficava com os outros 49%. 

      A ideia era relativamente simples: compartilhar projetos, motores e plataformas em carros de ambas as marcas, ganhando assim em escala.

      Afinal, quanto mais unidades de alguma coisa são produzidas, especialmente em uma mesma linha de montagem, menor tende a ser o seu custo unitário. Uma possibilidade que, inclusive, estimula hoje a formação de megagrupos, como o recente Stellantis – FCA (Fiat+Chrysler+Jeep+Peugeot+Citroën+Opel, mais um monte de outras). 

      + Stellantis promete ter 39 modelos eletrificados em 2021

      A criação da Autolatina só começou mesmo a se refletir nas concessionárias em 1990, com o lançamento duplo dos modelos Verona (Ford) e Apollo (VW), ambos derivados do Ford Escort da época.

      As diferenças entre os dois estavam no acabamento, em detalhes de grades frontais, emblemas e nas opções de motores – CHT 1.6 (Ford) e AP 1.8 (VW) no Verona e somente o 1.8 no Apollo. 

      Enquanto o motor AP 1.8 da Volkswagen era mais potente, o 1.6 da Ford proporcionava mais economia de combustível.

      Assim, houve também um troca-troca de motores entre modelos das duas marcas e surgiram tanto versões dos Ford Del Rey e Escort com o 1.8 alemão, quanto opções do VW Gol com o 1.6 da montadora americana. 

      No ano seguinte, chegaram ao mercado mais dois “irmãos”: o VW Santana de segunda geração e o Ford Versailles – ambos construídos sobre a plataforma do modelo da montadora alemã.

      Novamente, as diferenças estavam principalmente em detalhes de acabamento da carroceria, forrações e emblemas. Ambos, no entanto, eram equipados somente com motores da Volks – de 1.8 e 2.0 litros – e contavam com versões SW (perua): Royale para o Versailles, Quantum para o Santana. Todos eram montados na fábrica da VW. 

      Para tentar dividir um pouco o mercado entre as duas marcas, a Royale inicialmente era vendida apenas com duas portas, enquanto a Quantum somente com quatro.

      Não custa lembrar que, até então, os modelos com duas portas eram ainda mais valorizados no Brasil, sabe-se lá porque. No entanto, o modelo da VW com seu acesso mais fácil para os passageiros fez muito mais sucesso e, dois anos depois, a versão da Ford ganhou a mesma configuração. 

      + O nome por trás da marca: Henry Ford

      Em 1993, simultaneamente ao lançamento de uma nova geração do Ford Escort – que, como comentamos, àquela altura também era equipado com motores da parceira –, a Volkswagen apresentou o Logus. Na prática o carro era um Escort com três volumes e era montado em uma das fábricas da montadora americana.  

      No ano seguinte, chegava aquele que seria o último lançamento de peso da parceria, o Pointer – não confundir com a versão esportiva do Passat. Como o Logus, ele nada mais era do que um derivado do Escort da Ford, desta vez, um hatch de quatro portas – do lado “americano”, havia o Verona, também com quatro portas, mas três volumes. 

      No final do mesmo 1994, porém, de comum acordo, as duas partes decidiram iniciar um processo de separação. Pelo que se sabe, sempre houve uma certa incompatibilidade de gênios, que se refletia em diferentes visões estratégicas e de gestão.

      O fato é que, mesmo trabalhando literalmente dentro da casa do parceiro – as duas chegaram a ter funcionários em ambas as linhas de montagem – o espírito de rivalidade entre elas nunca deixou de existir completamente. 

      O processo de “divórcio” foi concluído em 1996, a partir de quando cada uma das ex-parceiras seguiu o seu caminho, com modelos – e motores – totalmente distintos uma da outra. No final das contas, em termos de custos, o relacionamento se mostrou vantajoso para ambas. Foi bom enquanto durou. 

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