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Volkswagen fecha acordo de R$ 36,3 mi para reparar violações durante a ditadura militar – AUTO ESPORTE

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      Relatórios indicam a contribuição da Volkswagen na repressão a trabalhadores durante a ditadura militar (Foto: Divulgação)

      Morto em 2019, aos 74 anos, o metalúrgico Lúcio Bellentani foi responsável por fornecer um dos relatos mais impactantes sobre a contribuição de grandes montadoras à ditadura militar instalada no Brasil de 1964 a 1985.

      Funcionário da Volkswagen, ele foi preso no dia 28 de julho de 1972 dentro da própria fábrica — agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social, um dos órgãos oficiais de repressão) o levaram para uma sala reservada e o agrediram com socos e pontapés. Com a anuência da empresa, foi levado para a prisão, onde permaneceu durante um ano e meio por conta de suas atividades políticas contrárias ao regime. 

      O depoimento de Bellentani é apenas um entre outros relatos coletados por pesquisadores, que resultaram em um acordo extrajudicial firmado entre a Volkswagen e os Ministérios Públicos Federal, de São Paulo e do Trabalho (MPF, MPSP e MPT).

      Lucio Bellentani fichado pelo DOPS em 1972 (Foto: Reprodução)

      A empresa se comprometeu a pagar R$ 36,3 milhões como reparação a ex-funcionários perseguidos, além de destinar parte desse valor a instituições que buscam revelar as histórias de prisões, torturas e desaparecimentos provocadas pelo Estado brasileiro. 

      Em nota, a Volkswagen afirma que lamenta as violações ocorridas no passado. “Para a Volkswagen AG, é importante lidar com responsabilidade com esse capítulo negativo da história do Brasil e promover a transparência“, escreveu Hiltrud Werner, membro do Conselho de Administração da Volkswagen para assuntos jurídicos. 

      Os inquéritos contra a empresa foram abertos em 2015, quando a ação em conjunto dos Ministérios Públicos investigou como a Volkswagen colaborou com os órgãos repressivos da ditadura. Apesar de não reconhecer qualquer responsabilidade própria ou de seus dirigentes, a fabricante alemã assinou o Termo de Ajustamento de Conduta que encerrará a abertura de uma possível ação judicial contra a empresa. 

      Funcionários da Volkswagen na linha de montagem do Fusca (Foto: Volkswagen do Brasil)

      Um relatório assinado por Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública e pesquisador dos crimes cometidos pela ditadura militar, reuniu provas de que o departamento de segurança da Volkswagen do Brasil tinha estreita colaboração com os militares e ajudou a perseguir trabalhadores da montadora. A empresa também participou desse processo de pesquisa, contratando um analista próprio. 

      Bellentani, assim como outros metalúrgicos que foram presos, eram membros do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que optou por uma oposição política à ditadura militar, condenando a ação de grupos de esquerda ligados à luta armada. 

      No acordo assinado entre os Ministérios Públicos e a Volkswagen, R$ 16,8 milhões serão destinados à Associação Henrich Plagge, que reúne os ex-funcionários da empresa afetados durante a ditadura militar. 

      O valor de R$ 4,5 milhões será destinado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que mantém o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF). Localizado na cidade de São Paulo, a instituição conta com um laboratório para investigar os 241 desaparecidos oficiais pelos órgãos de repressão da ditadura. 

      Análise das ossadas da vala clandestina de Perus no CAAF (Foto: Divulgação)

      O CAAF é responsável por analisar as ossadas encontradas em uma vala clandestina no cemitério de Perus, no início da década de 1990. Além dos assassinados pela ditadura, as centenas de outros mortos seriam vítimas dos esquadrões da morte, crianças que provavelmente morreram por um surto de meningite no inicío da década de 1970, e pessoas enterradas como indigentes.

      Por fim, R$ 10,5 milhões serão destinados a projetos de presevação da memória, para que os crimes cometidos pela ditadura militar sejam de conhecimento público. 

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