Clube do Gol › Fóruns › Notícias Automotivas › Como a Brastemp une General Motors, Volkswagen, Chrysler e Gurgel no Brasil – AUTO ESPORTE
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13/09/2020 às 02:05 #1010634790
Pode um eletrodoméstico, feito para não sair do lugar, ter ligação com nada menos do que quatro fabricantes de veículos? Se esse eletrodoméstico for Brastemp e estivermos falando do Brasil, sim!
Vamos explicar. A história começa em 1945, quando foi fundada em São Paulo uma empresa chamada Brasmotor. Ela tinha diversas atividades, mas a principal estava ligada ao Grupo Chrysler dos Estados Unidos: ela importava e, mais tarde, montava veículos que chegavam desmontados dos Estados Unidos em CKD das marcas Chrysler, Dodge, De Soto, Plymouth e Fargo. Essa montagem de veículos Chrysler pela Brasmotor aconteceu primeiro no bairro do Brás, em São Paulo, e depois em São Bernardo do Campo (SP).
Dada essa experiência e graças a um acordo da Chrysler dos Estados Unidos com a Volkswagen alemã, em 1950 a Brasmotor foi nomeada importadora e distribuidora exclusiva da Volkswagen no Brasil. Importou e vendeu as primeiras Kombi e os primeiros Fusca por aqui.
O plano era que a Brasmotor passasse logo depois a montar esses modelos no Brasil via CKD, assim como já fazia com a Chrysler. Isso realmente ocorreu, mas por pouco tempo: depois de cerca de 1 mil Fusca montados no País pela Brasmotor a Volkswagen decidiu, em 1953, fazê-los por conta própria, abandonando a parceria.
Perdendo a representação da VW e logo depois também da Chrysler, a Brasmotor decidiu investir em outra atividade que já exercia de forma parecida, porém em menor volume: montagem e distribuição de geladeiras, algumas já com partes nacionais. Trabalhava inicialmente com marcas dos Estados Unidos, como Alaska, Kelvinator, Norge e White Star, mas em 1954 decidiu nacionalizar a produção inteira e lançar geladeiras com uma marca própria. O nome escolhido foi Brastemp: Bras de Brasil e Temp de temperatura.
Aqui, portanto, já fica clara a ligação da Brastemp com a Chrysler e a Volkswagen no Brasil, todas fruto da atividade de uma mesma empresa, a Brasmotor. Mas e com a GM? Essa parte da história começa em 1951, quando a General Motors do Brasil iniciou em sua fábrica de São Caetano do Sul (SP) – que acabou de completar 90 anos neste 2020 – a produção das geladeiras Frigidaire.
As Frigidaire então já eram bem famosas por aqui. Nos anos 50 e 60 ninguém chamava geladeira de geladeira: chamavam-na de Frigidaire, assim como ainda hoje chamamos alguns produtos pela sua marca mais famosa, como Chiclete, Band-aid, Gillette, Cotonete etc. As Frigidaire foram os primeiros refrigeradores elétricos do mundo e chegavam ao Brasil importados desde a década de 1930, ainda que a Frigidaire fosse uma empresa da General Motors Corporation desde 1919.
Por sinal foi justamente graças à divisão Frigidaire e seus compressores que a matriz da GM começou a instalar ar-condicionado em veículos, ainda na década de 1950. Até a década de 1960, inclusive, os compressores instalados nos carros Chevrolet traziam uma plaqueta com inscrição Frigidaire.
Voltando à nossa história, as Frigidaire nacionais fizeram bastante sucesso e por um bom tempo a fábrica de São Caetano produziu muito mais geladeiras do que carros, caminhões ou ônibus. Em menos de seis meses saiu da linha de produção a Frigidaire número 1 mil, saltando em 1956 para 100 mil, em 1963 a 500 mil e em 1968, quando começou a fabricação do Opala na mesma unidade, já eram 750 mil.
Um milhão de geladeiras vieram em dezembro de 1970 e o segundo milhão em 1978. Todas, aliás, traziam emblemas onde junto ao nome Frigidaire estava a orgulhosa inscrição “Fabricação exclusiva da General Motors”.
Em 1979 a matriz da GM decidiu se concentrar somente em veículos e vendeu a Frigidaire para a White Consolidated Industries, dona da marca White Westinghouse (que por sua vez foi vendida em 1986 à AB Electrolux). Assim, a produção das geladeiras em São Caetano foi encerrada em setembro de 1979. E é neste ponto que as linhas começam a se cruzar.
A Brasmotor, a fabricante da Brastemp que antes foi representante da Chrysler e da VW, sabia que o nome Frigidaire ainda era forte no Brasil naquela época. Correu para os Estados Unidos e conseguiu um acordo de direito de uso da marca, que seria aplicada às geladeiras que ela já produzia aqui. Assim a empresa começou a fabricar geladeiras que eram basicamente uma Brastemp, mas que ganhavam pequenos detalhes estéticos diferentes e o nome Frigidaire. Essencialmente, porém, eram a mesmíssima geladeira. E assim a Brastemp ganhou sua ligação também com a GM no Brasil, graças à Frigidaire.
Ainda falta a conexão com a Gurgel, é verdade. Essa aconteceu mais para a frente, nos anos 1990. A Brasmotor, antes, tinha comprado a Consul e a Semer, de fogões, e se transformando em Multibrás. E a Multibrás inaugurou em 1990 uma fábrica em Rio Claro, no interior de São Paulo, inicialmente para produzir máquinas de lavar roupas e depois fogões.
A apenas 16 quilômetros dali estava a Gurgel, instalada na mesma Rio Claro desde 1969. Pois bem: como todos sabemos a Gurgel faliu logo a seguir, em meados dos anos 90. Após anos de imbróglio judicial o terreno onde ficava a fábrica foi vendido.
Pois hoje em dia existem duas empresas instaladas neste condomínio industrial, que habita o solo sagrado da Gurgel, que vendem seus produtos para uma fábrica ali perto, na mesma cidade de Rio Claro, chamada Whirpool. E quem é a Whirpool? É, desde 2006, a nova denominação da Multibrás. E o que a Whirpool produz em Rio Claro? Acertou: produtos Brastemp, é claro.
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