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Veneno – Um pouco de pimenta nos motores CHT
A Ford sempre teve o cuidado de proporcionar bastante conforto e bom acabamento em seus carros. O Corcelzinho 1 era chamado de “Galaxie dos pobres” pois, apesar das diferenças gritantes, era um carro bastante macio, de bancos anatômicos e, dentre os carros menores da época, era o que melhor nos acolhia.
Quando entro em um carro, fora os de competições, e me sinto desconfortável, pego logo birra, me sinto tratado com descaso. Daí minha simpatia pelos carros da Ford. Daí que já tive vários da marca.
Porém, Del Rey, Belina, Escort e outros da Volks que usaram os extintos motores Ford CHT sempre foram tidos como “mancos”. O CHT 1.6, como diz o nome (High Torque), é um motor que proporciona bom torque em baixas rotações. Essa característica reflete em conforto ao motorista, menos trocas de marchas se tornam necessárias ao circularmos por aí, mas quando precisamos ou queremos dar uma afinadinha nos giros, pisar fundo e sentir a coisa andar, o motorzinho se esgoela logo de cara. Parece que a gente vai e o carro fica pra trás.Nada contra o comedimento mas, caso aquela velha professora de biologia resolva vender aquele Del Rey impecável, ou sua querida mãezinha vá tirar umas férias de você e de seus irmãos, deixando o Escortinho dando sopa na garagem, eis aí uma oportunidade de deixar esses pacatos e confortáveis veículos com um pouco mais de brio. Um pouco mais com a “sua cara” (nossa).
O Eber Botteon de Lima presta ajuda psicológica a vários jovens, ajudando-os a elevar sua “auto-estima” com um método que começa na preparação de seus automóveis. Por ser repórter, foi-me permitido assistir a uma sessão… Eber acomodou o paciente num divã e colocou em seu colo uma direção de plástico. Pediu-lhe que se concentrasse e imaginasse que dirigia o Escort da mãe. A recém-conquistada namorada estaria imaginariamente a seu lado. Fazia gosto ver as feições de felicidade naquele rosto sofrido do menino; ele passeava, braço esquerdo no encosto do divã, dirigia com uma só mão aquela direçãozinha de plástico amarela, chegava a assobiar como um passarinho:
— Fiu fiu, fiu fiu.
Mas, com a crueza de um profissional objetivo, Eber tira-o do devaneio, gritando em seu ouvido a ponto de fazer voar seus cabelos:
— VVRUUMM..VRRUUMM… Gol bolinha! Injeção eletrônica! Motor AP!
Meu chapa, deu dó! O rapazinho sentiu-se impotente, suas feições crisparam, o desespero tomou conta do rapaz, tremedeiras e choro descontrolado… deu dó.
— E aí, Eber, que cê vai fazer com o rapaz? — perguntei.
— O caso não é tão grave, ele nem fez pipi nas calças. Quando fazem pipi nas calças, só um turbo pra resolver. Esse a gente resolve com aspirado mesmo — vaticinou Eber.
— Meu chapa, passa essa receita de aspirado pra mim, vai que tem algum leitor no mesmo estado… tenha piedade de meus leitores… — pedi.Aqui vai: como a maioria dos motores CHT era a álcool, façamos uma para eles. Comecemos por trocar a carburação pela do XR-3. Ele usava o Weber DMTB com difusor 2425; atente para que tenha essa medida de difusor, pois há DMTBs com diferentes difusores. A vantagem dessa carburação está no fato de não precisarmos trocar coletores de admissão, ele encaixa certinho no coletor original. Um Weber 40 seria o ideal, daria mais torque e potência, mas é mais caro e exige troca de coletor, ao passo que um do XR-3 pode ser achado em desmanches, e mesmo os novos são mais baratos que o Weber.
Um comando de válvulas de 288 graus da Samacar vai ajudar o bichinho a afinar a voz em giros mais altos, vai acabar com aquele “esgoelamento” de cavalo pangaré mal alimentado.Veja, até agora estamos trabalhando para aumentar o fluxo de mistura para o cilindro. Tratemos de fazer um serviço mais caprichado no cabeçote e nas válvulas, também para aumentar a passagem de ar. Trabalha-se, comendo com maquinário próprio, as válvulas e igualmente o cabeçote de modo que se encaixem perfeitamente nas novas conformações que agora permitirão maior fluxo.
Aumentamos assim a quantidade da mistura álcool—ar a ser aspirada pelo motor e, para termos uma melhor queima da mistura, vamos aumentar a taxa de compressão. Vamos comprimir mais essa bombinha para termos uma explosão mais radical. A taxa vai ser aumentada dos 12,5/1 originais para 14/1.
— Então, tá pronto? — perguntei.
— Mole! — Eber com o cachimbo de psicólogo.
— Quantos cavalos? Quantos cavalos? — gritava animado o rapazinho com a direçãozinha de plástico nas mãos.
— Dos 73 vai pruns cenzinho; mas você, trate de botar uns amortecedores do XR-3 também. Eles são mais durinhos e vão lhe dar mais segurança. Fala pra tua mãe que o asfalto da cidade piorou nesse mês que ela viajou. Ela desencana logo.Pros que fazem pipi de medo, sugiro aguardar nova receita do nosso amigo Eber. Ou liguem pra ele pra marcar consulta, pelo telefone (0xx19) 3562-7819.
Custos:
Carburador Weber DMTB R$ 150,00 a R$ 200,00
Comando 288 graus R$ 300,00
Trabalho nas válvulas e cabeçote R$ 350,00
aki tem dicas:
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